A greve foi um dos instrumentos mais utilizados pelos trabalhadores na sociedade capitalista. A paralisação das atividades de uma ou mais empresas sempre se apresentou como uma poderosa arma de reivindicação. O movimento operário- e a greve em particular- pode ser analisado pelo menos de acordo com dois pontos de vista : o de Émile Durkheim e o de Karl Marx. O enfoque de Durkheim tem como ponto de partida a ideia de que todo conflito é resultado da inexistência de regras e normas (anomia) que regulem as atividades produtivas e a organização das várias categorias profissionais. A desordem (greve) é , para ele, um momento especial em uma ordem geral estabelecida e serve apenas para a desintegração da sociedade . Para Durkheim , a questão social é também moral, pois envolve ideias e valores divergentes dos da consciência coletiva. Conforme Durkheim , os desejos de alguns grupos ou de indivíduos devem estar submetidos aos sentimentos gerais da sociedade , e não a eles prevalecer. Assim, uma sociedade dividida não pode ser normal , pois o fundamental é manter a solidariedade orgânica decorrente da divisão do trabalho social. Karl Marx entende a questão de outra forma. A greve aparentemente é apenas um movimento reivindicatório por melhores salários e condições de trabalho. Mas , analisando um pouco melhor, percebe-se que em uma greve operária existem sempre três atores sociais : o trabalhador , o empresário capitalista e o Estado. O trabalhador representa a força de trabalho e só tem isso para defender ; assim , sua luta por melhores salários e condições de trabalho o coloca em confronto com o empresário , o que representa o capital , e cujo objetivo é conseguir o maior lucro possível. A greve , para Marx, é a expressão mais visível da luta de classes entre a burguesia e o proletariado. Ao Estado , que aparece na forma da legislação existente , cabe regular a relação entre o trabalho e o capital : as leis que podem proteger o trabalhador e seus direitos (que foram conquistados arduamente) também podem atuar em benefício do capital, o que acontece normalmente quando os tribunais decidem as questões trabalhistas . Mas o Estado age também com a força policial , a qual pode ser acionada para reprimir os trabalhadores em nome da normalidade e da paz social. Nessa perspectiva , numa greve questionam-se não só as condições de exploração em que vivem os trabalhadores, mas também a ação do Estado e seu caráter de classe. Numa greve operária questiona-se a própria estrutura da sociedade capitalista, que , em sua essência , é desigual e perpetua a exploração dos trabalhadores.