O Culto ao Sucesso



"Seja uma pessoa de sucesso!" Quantas vezes ouvimos essa afirmação nos últimos tempos? A maioria das propagandas da sociedade atual leva-nos a acreditar que só existe o caminho da vitória. Devemos sempre ser vencedores, jamais vencidos; para isso é preciso ter sempre a melhor performance, seja corporal , seja intelectual. Ou temos um belo corpo ou um currículo composto somente de vitórias. Quem estiver fora desse conceito é considerado perdedor , uma pessoa que não corresponde às expectativas sociais de sucesso e , portanto,  não merece estar entre os vencedores.  No Japão , por exemplo, alguns jovens que não conseguem aprovação na escola ou na universidade , sentindo-se perdedores , se suicidam. O culto ao sucesso afeta desde cedo a vida das crianças , que acabam se tornando "pequenos adultos superocupados". Na ânsia de fabricar futuros vencedores , os pais inscrevem os filhos em toda sorte de atividade - além da escola formal -, pois estes precisam estar preparados para o sucesso. As crianças , então, deixam de brincar e passam a ter uma agenda com atividades como inglês , informática , natação , judô, música ... Tudo ao mesmo tempo.  Na juventude e na idade adulta , o culto à performance continua de várias formas. Cuidar do corpo , por exemplo, deixa de ser uma questão de saúde e bem-estar e passar a ser um princípio exclusivo da estética. É comum vermos  academias lotadas de pessoas à procura da tão sonhada performance. Essa busca leva alguns jovens ao absurdo de tomar remédios indicados para bois e cavalos, buscando aumento da massa muscular. As jovens querem ter o padrão de beleza mostrado na mídia , mesmo que isso signifique ficar sem comer e debilitar-se fisicamente. É comum ver os garotos alardeando seu desempenho sexual, mesmo que para isso usem medicamentos do tipo Viagra para demonstrar sua (im)potência. Talvez você já deve estar pensando em fazer o seu curriculum vitae e sabe o que deverá incluir nele. Ora, nós só colocamos aquilo que deu certo em nossa cerreira.  O documento que registra nossa passagem pela vida produtiva foi bem analisado por Leandro Konder, filósofo brasileiro, em um artigo intitulado "Curriculum Mortis e a reabilitação da autocrítica". Nesse artigo , Konder diz que o curriculum vitae é a ponta do iceberg de nossa visão triunfalista da vida, pois nele só colocamos aquilo que consideramos um sucesso em nossa carreira. Em suas palavras , " o curriculum vitae é o elemento mais ostensivo de uma ideologia que nos envolve e nos educa nos princípios do mercado capitalista; é a expressão de uma ideologia que inculca nas nossas cabeça aquela mentalidade de cavalo de corrida... O que aconteceu de errado , os tropeços , as quedas e os fracassos não aparecem nele, quando na maioria das vezes essas são a maior parte das ocorrências de nosso viver". Por isso , o filósofo propõe que , com o curriculum vitae , façamos também o nosso curriculum motis , no qual registrou-se tudo o que não deu certo.  Será uma maneira de fazer autocrítica : o primeiro passo para desenvolver a capacidade de criticar e ser criticado e , ainda , ampliar a autoestima.